Genau wo leht der Rand von der Welt? Onde é que fica a beira do mundo?

Wie verschiedene Kulturen mit Armut, Leid und Ausgrenzung umgehen – in einfachen Worten erzählt
Como diferentes culturas lidam com a pobreza, o sofrimento e a exclusão – em linguagem simples e acessível


Ein Blick in verschiedene Ecken der Welt
Um olhar para diferentes cantos do mundo

Fast überall auf der Welt gibt es Menschen, die am Rand leben. Menschen ohne Wohnung, ohne Geld, ohne Hilfe. Viele kämpfen mit Krankheit, Sucht oder sind einfach vergessen worden.
Em quase todo o mundo, há pessoas vivendo à margem. Sem casa, sem dinheiro, sem apoio. Muitas enfrentam doenças, vícios ou simplesmente foram esquecidas.

Stell dir vor:
Imagine só:

  • Heute bist du in San Francisco. Menschen schlafen in Zelten, leben auf der Straße, oft ohne medizinische Hilfe.
    Hoje você está em San Francisco. Pessoas dormem em barracas, vivem nas ruas, muitas vezes sem acesso à saúde.
  • Letzte Woche warst du in einem muslimischen Viertel in Bengaluru, Indien. Dort geben viele Menschen Almosen – das ist Teil ihres Glaubens (Zakat).
    Semana passada você esteve em um bairro muçulmano de Bengaluru, na Índia. Lá, muitas pessoas dão esmolas – isso faz parte da fé delas (Zakat).
  • Vor einem Monat warst du in São Paulo, Brasilien. Drogen, Armut, Angst – und viele Menschen, die einfach durchfallen.
    Um mês atrás você esteve em São Paulo, Brasil. Drogas, pobreza, medo – e muita gente esquecida pelo sistema.
  • Zwei Monate zuvor warst du in einem Zug in Buenos Aires. Kinder betteln, Alte sind allein, viele sind unsichtbar.
    Dois meses antes, você estava num trem em Buenos Aires. Crianças pedem, idosos estão sozinhos, muitos se tornam invisíveis.

Und das Gleiche passiert in China, Russland, Mosambik, Peru – Leid kennt keine Grenzen.
E o mesmo acontece na China, Rússia, Moçambique, Peru – o sofrimento não conhece fronteiras.


Welche Rolle spielt Religion?
Qual é o papel da religião?

Religion und Weltanschauung prägen oft, wie mit Armut umgegangen wird.
Religiões e filosofias influenciam bastante como a pobreza é tratada.

  • Im Islam ist Zakat – das Geben an Bedürftige – Pflicht.
    No Islã, o Zakat – dar aos necessitados – é um dever religioso.
  • Im Christentum steht Nächstenliebe im Zentrum: „Liebe deinen Nächsten wie dich selbst.“
    No Cristianismo, o amor ao próximo é central: “Ame o próximo como a si mesmo.”
  • Im Hinduismus und Buddhismus glaubt man manchmal, Armut sei karmisch – aber Großzügigkeit bleibt wichtig.
    No Hinduísmo e no Budismo, a pobreza às vezes é vista como parte do carma – mas a generosidade continua sendo um valor.
  • In säkularen Gesellschaften (z. B. China) soll oft der Staat helfen – doch das funktioniert nicht immer.
    Em sociedades seculares (como a China), espera-se que o Estado ajude – mas nem sempre isso acontece.
Madonna mit Kind bei der Milchsuppe, Gerard David (um 1510), Museum der Schönen Künste Antwerpen.
Madona e o Menino com sopa de leite, Gerard David (c. 1510), Museu de Belas Artes de Antuérpia.
Quelle / Fonte: Google Art Project – Wikimedia Commons (gemeinfrei / domínio público)

Muss das so sein?
A pobreza é inevitável?

Nein. In der Geschichte gab es Gemeinschaften ohne extreme Armut.
Não. A história mostra que já existiram comunidades sem pobreza extrema.

Kleine Dörfer, Klöster, indigene Gruppen – sie teilten, halfen, lebten gemeinsam.
Aldeias pequenas, mosteiros, povos indígenas – onde havia partilha, ajuda, vida em comum.

Armut ist dort nicht Strafe oder Schuld, sondern eine Herausforderung für alle.
A pobreza não era castigo nem culpa individual – mas uma questão coletiva.

Heute aber scheint Armut in vielen Städten „mit eingebaut“ zu sein.
Mas hoje, em muitas cidades, a pobreza parece estar “dentro do sistema”.

Müssen ein paar arm bleiben, damit andere reich leben können?
Será que alguns precisam ser pobres para que outros possam ser ricos?


Was lernen wir daraus?
O que podemos aprender com tudo isso?

  • Leid ist überall ähnlich – egal ob Nord oder Süd.
    O sofrimento é parecido em todo lugar – no Norte ou no Sul.
  • Aber die Reaktionen darauf sind kulturell verschieden.
    Mas a forma como se responde a isso varia culturalmente.
  • Religionen, Staaten und Ideologien helfen oder versagen – je nach Kontext.
    Religiões, governos e ideias filosóficas ajudam ou falham – dependendo do contexto.
  • Wichtig ist: Armut ist gemacht. Sie ist nicht Natur, sondern Struktur.
    O mais importante: a pobreza é construída. Ela não é “natural” – é parte do sistema.

Und jetzt?
E agora?

Vielleicht warst du schon mal am Rand. Vielleicht bist du es gerade.
Talvez você já tenha estado à margem. Talvez ainda esteja.

Dieser Text will nicht urteilen, sondern zum Nachdenken einladen.
Este texto não quer julgar, mas sim provocar reflexão.

Wenn du etwas sagen willst – hinterlasse einen Kommentar oder teile diesen Beitrag.
Se quiser compartilhar algo – deixe um comentário ou compartilhe este texto.

Denn wo man neu hinschaut, kann man auch neu handeln.
Porque onde se olha diferente, se age diferente.

Was bleibt iss die Mottersproch

En verstecktes Erwe: Deitschbräsiljoonische Kultuar im Süd von Bräsilje

Im Süd von Bräsilje – in Bundesstoote wie Rio Grande do Sul unn Santa Catarina – sieht ma’ viele “typische” Feste, Musikantegruppe unn Häiser im “deitsche Stil”. Tourismusbüros soohn: “En Stück Deutschland in Bräsilje“, orrer “Die deitschste Stadt im Land”. Awer was bedeidt das weerklich?

Am 25. Juli feire viele Städte die Festa do Colono e Motorista (Hochdeitsch: Fest des Bauern und [Lastwagen]Fahrers). Der Noome klingt neutral. Awer genau om 25. Juli 1824 sinn jo die erste deitsch Sprochicher Inwannrer in São Leopoldo (RS) oon’komm. Zufall? Nein! Die Verbinnung zu der deitsche Geschicht iss kloor – awer gut versteckt.

Während, ei in der Zeit von der Diktatuar unner Getúlio Vargas (1937–1945) woor Deitsch in Schule verbot. Zeitunge unn Kultuarvereine worre geschloss. Um se üwerlewe, versteckte sich die Kultuar hinner “allgemeine” Noome: Musik iss dann “Bandinha” ‘geb, das Fest woor “típica” orrer “colonial” genännt ‘geb.

Heit sieht ma’ en “Comeback” von der deitsche Kultuar – awer oft nuar für Touriste. Musik, Bier, Kleidung, Bilder – awer keh Sproch, ken echt Geschicht. En echtes Erwe braucht meahr: Sproch, Schulbildung, lokal Identität.

Die reschionoole Variante wie das Riograndenser Hunsrückisch orrer Pomeroonisch sinn net “verkeahrt” orrer “falsch”. Sie sinn authentisch bräsiljoonisch-deitsch. Sie könnte jo Brücke zu der Standardsproch (Hochdeutsch) orrer sogoor zum Englische riewer schloohn.

Nuar mit Sproch weerd die Kultuar wieder lewendich – net nuar en Kostüm für das Oktoberfest.


Um legado disfarçado: a cultura brasileira de raíz germânica do sul do Brasil

No sul do Brasil – em estados como Rio Grande do Sul e Santa Catarina – é comum ver festas “típicas”, casas no “estilo alemão” e bandas que tocam polcas e schottisch. As campanhas turísticas chamam de “um pedaço da Alemanha no Brasil”, ou “a cidade mais alemã do país”. Mas o que isso realmente quer dizer?

No dia 25 de julho, muitas cidades comemoram a Festa do Colono e Motorista [camioneiro]. O nome é neutro, mas a data é simbólica: foi nesse dia, em 1824, que chegaram os primeiros imigrantes alemães ao Brasil, em São Leopoldo (RS). Coincidência? Não! É um vínculo com a memória germânica, mas de forma discreta.

Durante o Estado Novo de Getúlio Vargas (1937–1945), a cultura brasileira de base germânica, alemã, foi duramente reprimida: o idioma foi proibido nas escolas, jornais em alemão foram fechados, associações dissolvidas, livros recolhidos e queimados em público. Para sobreviver, a cultura se escondeu atrás de nomes genéricos: a música alemã virou música de “bandinha”, a festa alemã ficou genericamente “colonial”.

Hoje, vemos um retorno da cultura alemã – mas muito voltado ao turismo. Arquitetura, cerveja, roupas típicas. Mas quase nada da língua raíz, pouca história real dos tempos pioneiros. É um folclore pasteurizado, que serve mais ao mercado do que à memória coletiva.

O verdadeiro resgate exige mais: valorização das variantes regionais do alemão brasileiro, como o hunsriqueano e o pomerano. Essas línguas não são “erradas”. São patrimônio cultural vivo e podem abrir portas para o alemão padrão, para o inglês, para o mundo.

Sem a língua, a cultura vira cenário. Com a língua, ela ganha corpo verdadeiro e autêntico, base social sólida história e um futuro mais promissor.

Pronunciar o “H” em hunsriqueano?

Wie funktioniert das Buchstäbche “H” im Bräsiljoonisch?

“H” om Wortoonfang – stumm, awer historisch

In Wörter wie Helena, hora, honra orrer história weerd das “h” net gesproch.
Es steht dort aus etymologische Gründe, also weche der Hearkunneft aus dem alt Latin orrer Grechisch.
Beispiele: Helena, honesta, hábito, história

Gehauchtes “h” – seltmol, doch oft in Fremdwörter

Mannichmol weerd das “h” tatsächlich ausgesproch – als leichte Hauchlaut, ähnlich wie im Deitsch.
Das passiert bei Noome orrer Wörter aus annre Sproche stammend.

  • Hanoi (Hauptstadt von Vietnam)
  • hóquei (vom Französischen hockey)
  • Hilda (vom Deutschen Hilde)
  • hunsriqueano riograndense (von Riograndenser Hunsrückisch)

Ob ma’ das “h” haucht orrer net, hot oft zu tun wo in Bräsilje, ei in was für Reschion dren ma‘ wohnt.

“H” zusammer mit en anner Buchstoob – bildt en Digraph

Wenn das “h” noh c, l orrer n kommt, verännert es der Klang von dem Buchstoob dodavoar.
Das nennt ma’ en konsonantische Digraph (zwooi Buchstoowe, awer nuar en Laut).

  • ch = klingt wie „sch“ → chave, cheiro
  • lh = klingt wie „lj“ → milha, velhinha
  • nh = klingt wie „nj“ → senhora, manhã

Das “h” hot hier keh eichne Laut, awer verännert nuar der Buchstoob davoar.


Como funciona a letra “H” na língua portuguesa?

H no início da palavra – mudo, mas com valor histórico

Em palavras como Helena, hora, honra ou história, o “h” não é pronunciado.
Está presente por razões etimológicas, ou seja, por vir do latim clássico ou do grego.
Exemplos: Helena, honesta, hábito, história

H aspirado – não é frequente, mas sim possível em algumas palavras de origem estrangeira no português moderno

Em alguns casos, o “h” pode sim ser aspirado, como um leve sopro — parecido com o som do “h” em alemão.
Isso ocorre especialmente em nomes próprios ou palavras de origem estrangeira.

  • Hanoi (capital do Vietnã)
  • hóquei (do francês hockey)
  • Hilda (do alemão Hilde)
  • hunsriqueano riograndense (do alemão Riograndenser Hunsrückisch)

A pronúncia aspirada depende da região do país , às vezes do contato com outras línguas, etc.

H junto de outra consoante – forma dígrafo

Quando o “h” vem depois de c, l ou n, ele modifica o som da letra anterior.
Chamamos isso de dígrafo consonantal (dois caracteres que juntos formam um único som).

  • ch = som de “x” → chave, cheiro
  • lh = som de “lh” → milha, velhinha
  • nh = som de “nh” → senhora, manhã

O “h” não tem som próprio, mas altera a consoante que o precede.

En Groobstehn in Rom, en Herz im Schatte: Kameroodschaft, Erinnrung unn Angst

En enfacher römischer Groobstehn. En Noome: Fannius. En Hearkunneftsplatz: das Land von der Ubier, en deitsche Vollek. En Dienst: dem Kaiser Nero sein Leibwächter. Unn en klen Zeil, wo meh sääht alswie en ganz Geschichtsbuch:

„…wurde von seinem collega (Kamerad) in Rom begraben.“

Waroom genau der Satz so viel auslöse kann, sagt meh üwer uns Heitztooch wie üwich die zwooi Menscher im antike Rom.

Was iss en collega?

Im Lateinisch bedeidt collega zunächst sachlich „Kollege“, „Mitstreiter“, „Amtsgenosse“. In enem militärische Kontext: der Kamerad, mit dem ma’ tächlich die Waffe trääht, die Wach tehlt, vielleicht sogoor das Esse. Unn: derjeniche, mit dem ma’ sich blindlings uffenanner verlässt.

Awer Sproch lebt net nuar doorrich Definitione, awer ooch doorrich Konnotatione. In Groobinschrifte wie jener von dem Fannius taucht der Begriff collega oft in enem Kontext uff, wo weit üwer nüchterne Amtssproche hinauswest. Es sinn die Fälle, in dene jemand, jo aus freier Stücken, emotionaler Bindung oder tiefer Trauer, die Koste unn Mühe uff sich nimmt, enem Gefährte en würdiches Gedenk se setze. In en fremde Stadt. In enem fremd Land.

Näh, die tut störe?

Sobald Mensche onfänge se spekuliere, ob hinner solche Zeiche gelebter Näh ooch en Lieb zwischich Männer stehn könnt, geschieht etwas Merrekweerdiches:

Die Abweahr setzt ren…

“Übertreibung!”

“Anachronismus!”

“So war das doch nicht gemeint!”

Unn doch, doch, doch: Wenn dieselwe Stimme dieselwe Näh für diffamierende Zwecke insinuiere, ei dann weerd das Misstraue geche Intimität plötzlich salonfähich.

Es iss en uaraltes Spiel: Andeitunge deerfe verletze, awer net versöhne —ijo gell net?!

Was net därref sin, wenn ‘s ehrend orrer wertschätzend gemeent iss; weerd stillschweichenn akzeptiert, wenn es herabsetze orrer schade soll.

Was wäre, wenn?

Was, wenn Fannius unn sein collega meh verband alswie der Dienst on enem umstrittne Kaiser? Was, wenn do Zeertlichkeit, Vertrautheit, vielleicht Liebe woor?

Was, wenn der Kollege, en Soldat wie ear, net nuar sein Flicht gefüllt hatt, awer aus echt, tief Verbundheht gehandelt woar???

Net alswie Familjeoongehöricher, net wie Offizier, doch wie Mensch, wo in en Zeit unn Gesellschaft, wo Zugehörichkeit öfterschs keh Garantie uff Näh bedeidt, ei die Näh dennoch lebte.

Müsse ma’ das immer beweise könne? Neh!

Awer deerfe ma’ es denke? Unbedingt!

Waroom stört die Näh uns so?

Vielleicht leht es jo droon, dass echt Näh Grenze verschwimme losse tut. Zwischich Freindschaft unn Lieb. Zwische Flicht unn Gefühl. Zwische dem, was ma’ öffentlich sääht, unn dem, was ma‘ ganz hehlich hofft.

Vielleicht stört uns droon, dass zwooi Männer —unabhängich dovon, ob ihre Beziehung körperlich woor orrer net — enanner so wichtich konnt sin, dass ene der anner in en fremd Land beerdiche geloss hot, in Stehn gemeisselt, dass ihre Bund enem zum anner viel unn tief Bedeitung hatt.

Erinnrung orre Projektion?

Neh, mear wisse net, ob der collega von Fannius ihn geliebt hot.

Awer: Mesr wisse, dass die Geschicht voll Spure von der Zuneihung iss, wo sich net in Schublade renpresse losse.

Unn mear wisse ooch, dass die reflexhafte Abweahr von solche Gedanke meh üwer unser Zeite, der Präsent, reveliere tut alswie üwer die Vergangheit.

Inloodung zur Reflexion

Vielleicht iss es Zeit, dass mear bei der Betrachtung von solche Spure net meh automatisch froche:

„Woor das en homosexuool Beziehung?“

Statt:

„Was macht es mit uns, dass mear solche Möchlichkeit net aushalle?“

„Waroom fällt es uns schwear, Näh alswie weartvoll se siehn – egool in was für Form?“

„Was verliere mear, wenn ma‘ alte Stehne net nuar wie historische Artefakte, awer alswie stille Zeiche von menschlicher Verbundheit betrachte?“

En enfacher Groobstehn. En Kamerood.

Unn die Froch, ob Lieb etwas iss wo im Schatte gelebt geb muss – domols wie ooch immernoch heit.

Quell Fonte: Wikipedia Deutsch
https://de.m.wikipedia.org/wiki/Ubier

Uma lápide da Roma antiga, um coração na sombra: camaradagem, memória e o medo do amor

Uma simples lápide romana. Um nome: Fannius. Uma origem: o povo germânico dos úbios (localizados ao norte, considerados uma ponte, uma cruza entre celtas e germanos). Uma função: guarda-costas do imperador Nero. E uma linha discreta, mas poderosa:

“… foi sepultado em Roma por seu collega (camarada).”

Por que exatamente essa frase é capaz de nos causar tanto impacto hoje? Talvez porque ela nos diga mais sobre nós do que sobre os dois homens a quem se refere.

O que significa collega?

Em latim, collega quer dizer “companheiro de função”, “colega de cargo”, “camarada de serviço”. Num contexto militar, é o parceiro de patrulha, o irmão de armas, aquele com quem se divide o risco, a rotina, e talvez até as angústias mais íntimas.

Mas nenhuma palavra existe apenas no dicionário. O valor dela está também no que sugere. E nesse tipo de inscrição funerária, quando alguém é lembrado por seu collega … que custeia uma lápide em Roma, longe da terra natal do falecido …, isso ultrapassa o formalismo. Ali, há vínculo. Há dor. Há laço.

Por que a proximidade incomoda?

É curioso: basta alguém sugerir que, por trás de tal demonstração de afeto masculino, poderia haver uma relação amorosa, e a resistência logo aparece.

“Impossível!”

“É anacrônico!”

“Estão forçando a barra!”

E ainda assim… essas mesmas vozes geralmente não se ofendem quando alguém insinua a homossexualidade de alguém como forma de ofensa ou chacota.

É um fenômeno revelador:

a proximidade entre homens só pode ser evocada se for para diminuir, nunca para valorizar.

A suspeita vira piada, mas o reconhecimento vira incômodo.

E se fosse?

E se Fannius e seu collega não fossem apenas irmãos de armas, mas também irmãos de coração e alma?

E se, numa Roma onde o amor entre homens era conhecido, ainda que muitas vezes velado ou hierarquizado, esse camarada tivesse, de fato, sido o amor mais próximo que Fannius teve na vida?

Será que importa?

Importa sim, porque resistir a essa possibilidade diz algo sobre nossos limites emocionais e culturais atuais.

Não se trata de provar nada. Sim porque o passado raramente nos permite certezas íntimas.

Mas se trata, sim, de permitir pensar.

Por que temos medo da ternura?

Talvez porque ela embaralha fronteiras. Entre amizade e amor. Entre dever e afeto. Entre o público e o íntimo.

Talvez porque não sabemos o que fazer com a ideia de dois soldados, em meio ao caos de Roma e ao império de Nero, construindo uma relação que superava a guerra, o idioma e a morte.

Talvez porque a ternura ainda é vista como fraqueza, e o amor masculino, se não for zombado, é rapidamente silenciado.

Memória ou projeção?

Não, não sabemos se o collega de Fannius o amava.

Mas sabemos que a história está cheia de sinais de vínculos profundos entre homens, difíceis de nomear, mas impossíveis de ignorar.

Bem sabemos que, ao recusar qualquer leitura que ultrapasse a camaradagem ocupacional, é a nossa sensibilidade que está sendo limitada, não a dos antigos.

Um convite à reflexão

Talvez seja hora de não perguntar mais:

“Será que eram um casal?”

Mas sim:

“Por que me incomoda tanto considerar essa hipótese?”

“Por que a proximidade entre homens ainda desperta medo ou zombaria?”

“O que temos a perder se enxergarmos nesses gestos de memória também a possibilidade de amor?”

Uma lápide antiga.

Um gesto de cuidado.

E a pergunta: o amor entre homens precisa mesmo permanecer na sombra de ontem, hoje e sempre?