O ESTUDO DO BILINGUISMO E DA DIGLOSSIA PARA UMA PERSPECTIVA LINGUÍSTICA EDUCATIVA
Franciele Maria Martiny (UNIOESTE)
franmartiny @ hotmail . com 1
Camila Menoncin (UNIOESTE)
kami – menoncin @ hotmail . com 2
RESUMO:
O objetivo deste artigo é mostrar um ponto de vista pluricultural em que os conceitos em torno da diglossia (sob o enfoque do bidialetalismo) e do bilinguismo (sob a abordagem plurilíngue)
sejam tomados como complexos fenômenos linguísticos que abrangem relações sociais e culturais mais amplas. A referida temática poucas vezes é abordada em sala de aula, mesmo em nível superior. Por isso, defende-se a necessidade de rever e refletir sobre ambos os conceitos e com eles trabalhar para que possa haver uma linguística educativa plurilíngue no contexto escolar.
Até porque, um dos problemas observados é em torno das línguas de imigrantes que ainda são ensinadas nas comunidades, tanto ideológica como metodologicamente, como línguas estrangeiras, sem respeitar e tratar os dados sócio-históricos referentes à origem étnica e à hibridização interna dos dialetos com a língua institucionalizada. Situação devida, em grande parte, às políticas linguísticas repressivas e homogeneizadoras ao longo da história linguística do Brasil. A fim de refletir sobre esse cenário, primeiramente, neste estudo, será feito um levantamento bibliográfico acerca dos conceitos de bilinguismo e diglossia, para após, mencionar os contextos linguísticos e sociocultuais de regiões de imigração, propondo, na sequência, dentro da sociolinguística, uma linguística educativa bilíngue que possa contribuir para que, realmente, os direitos linguísticos destes grupos minoritários sejam respeitados.
PALAVRAS-CHAVE: Bilinguismo, diglossia, pluriculturalismo, ensino.
ABSTRACT:
The purpose of this paper is to show a pluricultural point of view in what the concepts around diglossie (on the focus of bidialetalism) and bilingualism (on a plurilingual approach) are
seen as complex linguistic phenomenons that engage wider social and cultural relationships.
The referred thematic is broached few times in the classroom, even in graduation level. Because of it, it is defended the necessity of reviewing and reflecting about both concepts and work with them to make an educative plurilingual linguistic in the school context. Even why, one of the problems observed is about the immigrants languages that are still taught on the communities, as ideologically as methodologically, like foreign languages, without respecting and treating sociohistorial data witch refer to the ethnic origin and the inner hybridization of the dialects with the institutionalized language. Situation under, in great part, the reprehensive and homogenizer linguistic politics through the Brazilian linguistic history.
To reflect about this scenery, first, in this research, it is going to be made a bibliographic survey about the concepts of bilingualism and diglossie to, after that, mention the linguistic and sociocultural contexts from immigration regions, proposing, on the sequence, inside the sociolinguistic, a bilingual educative linguistic which can contribute to, actually, the linguistic rights of these minority groups be respected.
KEYWORDS: Bilingualism, Diglossie, Pluriculturalism, Teaching.
1 Aluna do Doutorado do Curso de Pós – Graduação Stricto Sensu em Letras – nível de Mestrado e Doutorado, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), bolsista da CAPES. Orientada pela Profa. Dra. Clarice Nadir von Borstel.
2 Aluna do Mestrado do Curso de Pós – Graduação Stricto Sensu em Letras – nível de Mestrado e Doutorado, da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste).
Orientada pela Profa. Dra. Clarice Nadir von Borstel.
INTRODUÇÃO
Os estudos em torno da língua/linguagem estão – e sempre estiveram – relacionados a concepções teóricas que refletem a forma de pensar de uma determinada sociedade ou grupo, ao longo do percurso da história da pesquisa científica.
Nesse sentido, é necessário mencionar os vários conceitos que são teorizados, reformulados e reconstruídos devido à própria dinâmica e natureza da pesquisa. Até porque, dentro do meio científico, não é mais possível afirmar que um estudo está concluído, fechado e solucionado. Acredita-se, portanto, que sempre há e haverá novas maneiras de se analisar cientificamente um f
enômeno e propor novos olhares e posicionamentos.
Nos estudos linguísticos a situação não é diferente. Do estudo imanente, proposto primeiramente por Saussure, ao estudo discursivo e a diversidade linguística, mostrado sob uma abordagem sociolinguística, são várias as teorias que envolvem as pesquisas em torno da língua/linguagem e sua relação com aspectos extra linguísticos que foram desconsiderados, em muitos momentos, como aconteceu na abordagem dada por certos grupos intelectuais e gramáticos que caracterizam as variações linguísticas como não favoráveis ao ensino.
Desta forma, as línguas de imigrantes ainda são ensinadas, nas comunidades, tanto ideológica como metodologicamente como línguas estrangeiras, sem respeitar e tratar dos dados sócio-históricos, da origem étnicas e da hibridização interna dos dialetos com a língua institucionalizada, esses aspectos se evidenciaram quando os imigrantes vieram para o Brasil, formando pequenos grupos de origem étnicas de várias regiões dos países de origem, mesclando fatores linguísticos (dialetais) e sociocultuais (hábitos, costumes, vestimentas, alimentação e religião).
Portanto, neste estudo, quer-se mostrar um ponto de vista pluricultural em que os conceitos trabalhados em torno da diglossia (sob o enfoque do bidialetalismo) e do bilinguismo (sob a abordagem plurilíngue) sejam tomados como complexos fenômenos linguísticos que abrangem relações sociais e culturais mais amplas. A temática aparece timidamente em estudos acadêmicos e, raras vezes, é abordada em sala de aula, mesmo em nível superior. Por isso, a necessidade de rever e refletir sobre ambos os conceitos e com eles trabalhar no processo de uma linguística educativa plurilíngue no contexto escolar.
O mito do monolinguismo e as políticas linguísticas
Embora tenha havido ações coercitivas, ao longo da história linguística do país, por parte do Estado Português e, na sequência, pelo Estado Brasileiro, para a proibição das línguas autóctones e alóctones, o Brasil ainda se destaca como um país multilíngue e pluricultural.
Sabe-se que a maior parte da história linguística do país foi marcada pelas ações coibitivas que negligenciaram o multilinguismo brasileiro em busca de um país monolíngue (BORTONI-RICARDO, 2004).
Destarte, Maher (2006) mostra que o mito do monolinguismo, historicamente, consolida-se a partir da Revolução Francesa, quando aparece o conceito de Estado-Nação. Nesse período, portanto,
[…] o lema seguido foi “unidade é igual a uniformidade”. Para se ter um Estado, uma unidade política, seria preciso garantir uniformidade linguística e cultural no interior de seu território. E, assim, a aversão à diversidade linguística vai se consolidando na história. Firma-se, pouco a pouco, a noção de que o plurilinguismo seria algo nefasto, ruim, uma condição a ser combatida: o projeto de modernidade insiste na necessidade de tornar o Estado homogêneo – uma língua, uma cultura, uma religião – para garantir a continuidade da ideia de nação constituída (MAHER, 2006, p.31).
A partir disso, constroem – se alguns dos mitos que ancoram a ideologia do monolinguismo e do monoculturalismo tidos, dessa forma, como expressões de uma civilização progredida, sendo requisitos indispensáveis para a construção dos Estados Nacionais (HAMEL, 1995). Ao mesmo tempo, propiciam políticas que buscam sustentar esse cenário.
Constatam-se os, portanto, os efeitos que as políticas linguísticas coercitivas e excludentes tiveram em várias nações, evidenciando os interesses políticos, econômicos , ideológicos e sociais contidos nelas, proporcionando a desigualdade linguística e socio cultural.
Mesmo assim, o Brasil, atualmente, como os demais países do mundo, é considerado plurilíngue. Estima-se que exista no país em torno de 170 línguas indígenas, além de cerca de outras 30 comunidades de imigrantes (alemãs, italianas, polonesas, japonesas, ucranianas, árabes, chinesas, entre outras). Além disso, há a língua brasileira de sinais, LIBRAS, utilizada por toda a comunidade surda do país e também por ouvintes que convivem e comunicam-se com surdos.
No entanto, a penas em 1988 a Constituição Brasileira reconheceu o Brasil como plurilíngue, ainda faltando políticas linguísticas de reconhecimento e de resgate/preservação para que muitas línguas não desapare çam como aconteceu com a maior parte das línguas indígenas no país.
Nesse sentido, Oliveira (2003), Savedra (2003), entre outros estudiosos desta área, mencionam a necessidade da definição de uma política linguística brasileira que abranja as situações de bilinguismo decorrentes de movimentos migratórios, bem como de situações de fronteira.
Sobre o que prevê a Constituição em torno da situação do bilinguismo e das políticas linguísticas, Savedra cita que:
a) a Constuição atual em seus artigos 215 e 216 admite que o Brasil é um país pluricultural e multilíngüe; b) no Brasil coexiste um grande número de línguas de imigrantes; c) para integração cultural e lingüística das comunidades de imigrantes no território nacional pouco foi feito e ainda persiste o desprezo por minorias lingüísticas, revelando a discriminação legal para as comunidades de língua materna não portuguesa; d) a pluralidade lingüística no Brasil delineia situações diversas de bilingüismo e multilingüismo e somente a educação indígena está contemplada com propostas curriculares de educação bilíngüe na Lei de Diretrizes e Bases (LDB) de 1996 (SAVEDRA, 2003, p. 40).
Todavia, faltam às línguas de imigração voz e visibilidade para serem incluídas nos diálogos sobre o ensino de línguas, ampliando a discussão em torno dos conceitos de bilinguismo, diglossia e os fenômenos de alternância de código face às diferenças encontradas ao longo da convivência do português com as línguas minoritárias.
Cavalcanti (1999) defende a inconformidade da política linguística brasileira pela falta de observação da realidade plurilíngue e multicultural do país.
Para a autora,
Isso talvez aconteça, porque, em primeiro lugar, existe um mito de monolingüismo no país (Bortoni, 1984, Cavalcanti, 1996, Bagno, 1999). Esse mito é eficaz para apagar as minorias, isto é, as nações indígenas, as comunidades imigrantes e, por extensão, as maiorias tratadas como minorias, ou seja, as comunidades falantes de variedades desprestigiadas do português.
Em segundo lugar, uma das razões para essa estranheza pode ser decorrente de o bilingüismo estar estereotipicamente relacionado às línguas de prestígio no que se convencionou denomi
nar bilingüismo de elite. Em terceiro lugar, esses contextos bilíngües de minorias são (tornados) invisíveis
(CAVALCANTI, 1999, p. 387).
Nesse sentido, há muito ainda a ser estudado e evidenciado em torno das questões linguísticas que envolvem situações de conflitos e ideológicas que extrapolam o sistema interna da língua.
Do falante ideal ao falante real: questões em torno do bilinguismo
Como já mencionado, praticamente em todos os países coexistiram – e coexistem – várias línguas. Situação mencionada por Calvet, quando o autor trata que
Há na superfície do globo entre 4.000 e 5.000 línguas diferentes e cerca de 150 países. Um cálculo simples nos mostra que haveria teoricamente cerca de 30 línguas por país. Como a realidade não é sistemática a esse ponto (alguns países têm menos línguas, outros, muitas mais), torna-se evidente que o mundo é plurilíngue em cada um de seus pontos e que as comunidades linguísticas se costeiam, se superpõem continuamente (CALVET, 2002, p.35).
Dessa forma, ao longo do tempo e da história das línguas, pode-se notar que os falantes tiveram contatos com as mais diversificadas realidades linguísticas.
Porém, foi apenas a partir do século XX que o conceito de bilinguismo se tornou cada vez mais amplo e complexo, não havendo até a atualidade uma concordância entre
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Considerações finais
Como a diversidade nas línguas é um fenômeno sempre presente tanto no contexto brasileiro como no exterior, discussões acerca dos conceitos que norteiam as
pesquisas linguísticas e o trabalho na sala de aula devem sempre ser realizadas com o intuito de entender e abarcar melhor as questões linguísticas que vão surgindo na
medida em que o mundo vai mudando.
Por meio dos estudos realizados neste estudo, com relação às conceituações de bilinguismo e de diglossia sob a abordagem de estudos sociolinguísticos, houve a possibilidade de perceber que os autores estão cada vez mais preocupados em também colocar em evidência aqueles falantes que não são falantes de línguas de prestígio, desconstruindo visões que acabavam por excluir certos falantes que nada tinham de inferior em relação a outros.
Enfim, os conceitos e as visões que são tomadas como ponto de partida para qualquer pesquisador, nunca devem ser vistos por estes como os únicos, os melhores ou os últimos. É por vezes necessário refletir mais sobre os mesmos, relacionando-os com a realidade social e cultural da comunidade e dos sujeitos pesquisados.
Na análise dos dois contextos mencionados, percebeu-se que não há respaldo nas escolas para que contextos de bilinguismo e de diglossia que envolvem línguas minoritárias sejam trabalhados, para que sejam evitados preconceitos linguísticos e os mitos em torno destas línguas, bem como sua manutenção e valorização.
Constata-se, portanto, que as línguas de imigrantes vêm desaparecendo cada vez mais de geração em geração sem que os falantes mais jovens tenham noção da riqueza linguística e cultural que estão perdendo.
Defende-se que são necessárias políticas que tenham como objetivo dar maior visibilidade a essas línguas passando ao letramento das crianças tanto na língua portuguesa quanto na língua de herança que aprendem em casa ao invés de utilizar a língua portuguesa em detrimento das demais.
[ Veja a seção de REFERÊNCIAS do TEXTO ORIGINAL aqui neste link --> http://www.sociodialeto.com.br/edicoes/16/10012014015013.pdf <-- see the Original texts' REFERENCES Section ]
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