Über Bücher wie L’imposture décoloniale
Vor kurzem erschien auf Französisch das Buch L’imposture décoloniale: Science imaginaire et pseudo-antiracisme (2020, neue Ausgabe 2023). Geschrieben wurde es von Pierre-André Taguieff, einem Philosophen und Ideenhistoriker, bekannt für seine Arbeiten über Rassismus, Antisemitismus und politische Ideologien. Das Werk versteht sich als scharfe Kritik am sogenannten „dekolonialen Denken“, das der Autor als imaginäre Wissenschaft und als Pseudo-Antirassismus beschreibt. Eine portugiesische Übersetzung, sowei ich weiss, ist bisher nicht erschienen.
Wenn ich solche Bücher lese, sehe ich sofort ein Muster. Sie sind sehr stark darin, die Übertreibungen, Widersprüche und Schwächen sogenannter „dekolonialer“ Bewegungen zu zeigen. Es gibt tatsächlich Fälle von überhitzter Rhetorik oder vereinfachter Theorie – und ein Teil der Kritik ist leicht nachvollziehbar.
Doch was mir auffällt, ist die historische Asymmetrie: Als früher der Status quo galt, in dem Minderheiten nicht als vollwertige Bürger gesehen wurden, sondern nur in benachteiligten Positionen existieren durften, hörte man selten eine so scharfe Kritik. Strukturelle Ausgrenzung, institutioneller Rassismus und kulturelles Schweigen galten als Normalität, fast nie als „Betrug“ oder „Impostur“.
Heute aber, wenn diese bisher unsichtbaren Stimmen Raum und Anerkennung fordern, nennt man sie radikal, gefährlich oder pseudowissenschaftlich. Das frühere Schweigen wurde als neutral akzeptiert; der heutige Protest dagegen gilt als Bedrohung.
Das zeigt weniger etwas über das Wesen der dekolonialen Bewegungen, sondern mehr über die Schwierigkeit des dominanten Denkens, eine unbequeme Wahrheit zu akzeptieren: Der klassische „Universalismus“ war nie wirklich universell. Er spiegelte vor allem die Sicht derjenigen wider, die die Machtposition hatten.
Wenn also Bücher wie dieses von „Impostur“ sprechen, dann zeigen sie vielleicht ungewollt etwas anderes: das Unbehagen gegenüber jenen, die nicht länger unsichtbar bleiben wollen. Die Irritation liegt nicht nur in den Übertreibungen, sondern auch darin, dass diese Stimmen endlich hörbar sind.
Schlusswort:
Am Ende ist das Wort „Impostur“ vielleicht nur die Reaktion derer, die fürchten, ihr Monopol auf die Stimme zu verlieren.
⸻
Sobre livros como A impostura decolonial
Recentemente foi publicado em francês o livro L’imposture décoloniale: Science imaginaire et pseudo-antiracisme (2020, nova edição 2023), escrito por Pierre-André Taguieff, filósofo e historiador das ideias conhecido por seus estudos sobre racismo, antissemitismo e ideologias políticas. A obra se apresenta como uma crítica contundente ao chamado “pensamento decolonial”, que o autor classifica como ciência imaginária e pseudo-antirracismo. Até o momento, que eu saiba, não há tradução em português.
Quando me deparo com obras desse tipo, noto logo um padrão. Elas são bastante eficazes em mostrar exageros, contradições e falhas de certos discursos chamados “decoloniais”. O leitor percebe que há, de fato, casos de retórica inflamada, simplificações teóricas e ativismos que beiram a caricatura. É fácil concordar com parte dessa crítica.
Mas o que me chama a atenção é a assimetria histórica: quando vigorava o status quo em que minorias não eram reconhecidas como agentes plenos dentro do Estado democrático, mas apenas toleradas em posições desfavoráveis, raramente víamos esse mesmo tom de denúncia. Naquele contexto, a exclusão estrutural, o racismo institucional e o apagamento cultural eram tratados como normalidade, quase nunca como “fraude intelectual” ou “impostura moral”.
Agora, quando vozes historicamente silenciadas reivindicam espaço e reconhecimento, essas tentativas passam a ser descritas como ameaça, radicalismo ou pseudociência. O que antes era silêncio imposto era aceito como neutro; o que agora é contestação ruidosa é tachado de perigoso.
Isso revela menos sobre a essência dos movimentos decoloniais e mais sobre a dificuldade que o pensamento dominante tem em admitir um fato incômodo: o chamado “universalismo” clássico nunca foi de fato universal. Ele refletia, sobretudo, a visão do grupo que ocupava a posição central de poder.
Portanto, quando obras como esta falam de “impostura”, talvez estejam revelando, sem o querer, o desconforto diante de quem já não aceita permanecer invisível. O incômodo não está apenas nos exageros das novas vozes, mas no simples fato de que essas vozes finalmente se fazem ouvir.
Conclusão:
No fundo, chamar de “impostura” aquilo que nasce das margens pode ser apenas a reação de quem teme perder o privilégio de falar sozinho.