Quando “saber uma língua” significa coisas diferentes: notas sobre comunicação entre brasileiros e europeus

Pessoas de países grandes e que geralmente se imaginam como monolíngues, como os Estados Unidos e o Brasil, quando interagem com europeus muitas vezes dizem coisas como “Eu sei inglês mais ou menos” ou “Me viro no alemão!”. Um suíço provavelmente vai pedir esclarecimentos, talvez querendo saber se você domina só a fala ou também a escrita. Já ouvi holandeses dos Países Baixos dizerem que gostavam de ler romances em alemão, mas que falar eles não sabiam de jeito nenhum; além disso, qualquer sotaque regional de alemão já os fazia se perder na compreensão.

Resumo: vale a pena a gente se preparar para ser mais específico.

Na mesma linha, o costume de simplesmente dizer que algo — digamos, uma comida — é “típica” não faz muito sentido para muitas pessoas na Europa. A palavra “cultura” também pode causar mal-entendidos. Muita gente usa “cultura” para se referir a trabalhos manuais, folclore etc. Já para outros, “cultura” significa especificamente museus, artes visuais, orquestra sinfônica e assim por diante.

Aprender um idioma vai bem além das palavras, mas a boa comunicação depende em grande parte do compromisso de querer compreender o outro lado durante o diálogo.

Detalhe: uma das vantagens de aprender um idioma é que aprender um terceiro fica bem mais fácil. No caso de quem cresce falando um regionalismo alemão sul-brasileiro — mesmo que só na informalidade e apenas na oralidade — a pessoa já tem “as manhas”, por assim dizer, ao entrar em contato com uma nova língua. E, ao aprender inglês, já vem com uma imensa bagagem terminológica (apesar dos falsos cognatos — mas isso é outra história).

Halt eich gesund unn munter!

— Paul

Nota: as quatro habilidades fundamentais no uso de uma língua são ouvir, falar, ler e escrever. Ouvir e ler são habilidades receptivas, enquanto falar e escrever são habilidades produtivas.

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